Frequentemente nos deparamos com reportagens e pesquisas, que mostram a desigualdade de gênero em relação a salário, cargos de liderança e áreas de atuação. Na área de tecnologia, por exemplo, ainda existe uma enorme discrepância entre a quantidade de mulheres e homens ocupando os cargos.
O que contribui para que a situação no mercado se reverta, são as comunidades criadas para o fortalecimento e capacitação da mulher profissional de tecnologia. As redes sociais são um grande aliado nesses casos, pois oferecem um espaço de troca, seja de experiência, conhecimento e muito mais.
Quais os principais desafios para essas comunidades? E o quanto impacta para que a realidade de desigualdade no mercado se transforme?
Para entendermos mais como funcionam esses grupos, e o quanto contribuem para essa mudança na sociedade e no mercado de trabalho, convidamos a comunidade Tech is for Woman, de Pernambuco, formado por Ana Beatriz Ducla, Nina Fausto e Milena Almeida para falar conosco sobre esse assunto.
1 – Nos conte um pouco sobre vocês e sobre a formação da comunidade
Nós somos três estudantes de engenharia eletrônica na UFRPE que acabamos nos interessando pela área de programação. Atualmente, Ana Beatriz trabalha como desenvolvedora Front-End, Milena Almeida como desenvolvedora Back-End e Nina Fausto como estagiária de TI. Quando nós começamos a nos envolver em eventos de tecnologia percebemos a grande diferença de mulheres e homens presentes nesse ecossistema, onde tiveram eventos em que a única presença feminina ali era a nossa e isso nos assustava muito. Sempre nos perguntávamos: “mas cadê as mulheres que programam? Cadê as meninas que amam tecnologia?” E foi aí que tivemos a iniciativa de criar o Tech Is For Womem, como um meio para que mais mulheres pudessem se fazer presente no ecossistema do Porto Digital aqui em Recife. Mas em menos de um ano tivemos um crescimento enorme, que não imaginávamos, e o Tech Is For Women se tornou uma comunidade onde debatemos sobre tecnologia e inovação, ministramos Workshops sobre programação e palestramos com o intuito de inspirar mais meninas e mulheres a escolherem a área de STEM.
2 – Quais os principais desafios mencionados pela comunidade e por vocês?
Um dos maiores desafios é não se sentir representada nos espaços de tecnologia. Não se enxergar naquele espaço, seja na faculdade ou no trabalho, encontrar poucas pessoas ou às vezes, ninguém parecido com você. Além disso, não ter o apoio necessário dos familiares e/ou colegas para seguir na área.
3 – Vocês acreditam que a comunidade impactou nas escolhas e tomadas de decisões das integrantes em relação a vida profissional?
Ana Beatriz Ducla:
Com certeza, antes da comunidade sempre pensei que trabalharia em indústria como engenheira eletrônica e nunca imaginaria que um dia estaria trabalhando como desenvolvedora em uma empresa de tecnologia. Esse emprego é apenas uma certeza de que o Tech Is For Women influenciou tanto a minha vida ao ponto de mudar todo o plano que eu tinha para a minha vida profissional. E ainda influenciar pessoas ao longo desse caminho é ainda mais gratificante pra mim.
Milena Almeida: Impactou muito, as oportunidades que a comunidade trouxe fizeram com que eu me enxergasse em espaços onde eu não imaginava estar. O mundo da programação/tecnologia era muito distante pra mim, graças ao Tech Is For Women eu me emponderei, me joguei em um mundo que antes era incerto e hoje trabalho como desenvolvedora.
Nina Fausto: O que mais impactou pra mim, foi me trazer para estar nessa área. Tem sido incrível conhecer e participar de histórias de mulheres parecidas com a minha, que já estão ou que estão entrando agora na área.
4 – Quando falamos de diversidade e inclusão, principalmente de gênero, vocês acreditam ser importante o apoio de pessoas que não necessariamente são do mesmo gênero? Exemplo: homens da área de tecnologia apoiando o aumento de contratações do sexo feminino.
Ana Beatriz Ducla:
Com certeza, um dos grandes problemas é que quando você é mulher, não só na área de tecnologia, como matemática, engenharia e ciências, os homens simplesmente não te escutam e não dão credibilidade para o que você fala, então, por exemplo, se em uma empresa de tecnologia a maioria são homens e você tem o apoio de todos os homens pra te escutar quando você fala e pra te incentivar, pode ter certeza que nessa empresa você vai conseguir crescer ainda mais. Em uma causa como essa o apoio de todos é bem vindo.
Milena Almeida: Sim, afinal a ideia não é segregar e sim unificar homens em mulheres em espaços onde eles possam ter exatamente as mesmas oportunidades. Saber que muitos homens apoiam a nossa iniciativa é super importante para a construção dessa mudança que queremos promover no cenário.
Nina Fausto: Sim, Muito. Quando se fala em inclusão e diversidade de qualquer tipo e em qualquer área precisamos de aliados que estejam dispostos a ouvir, abrir espaço e por vezes dar voz às discussões relacionadas a essas minorias.
5- O quanto as redes sociais contribuíram para vocês seguirem o propósito da Tech is for Woman?
Bom, o Tech Is For Women nasceu no instagram então as redes sociais foram um grande incentivador para que tudo desse certo. E é por lá onde conseguimos ficar ainda mais próximas de todas as mulheres que nos seguem, é onde conversamos, tiramos dúvidas e debatemos sobre vários assuntos.
6- Vocês percebem uma mudança no mercado de tecnologia em relação à inclusão de mulheres?
Atualmente, percebemos muitas políticas de inclusão em várias empresas, como academias para ensinar e contratar mulheres, por exemplo, mas acreditamos que ainda falta essa inclusão em cargos de liderança. É muito bom ver essas iniciativas, mas precisamos ter certeza que a inclusão ocorre dentro da empresa e em todos os cargos.
7 – Vocês recebem algum apoio ou possuem parceria para manterem o grupo ativo? Ex: empresas parceiras ou até voluntárias para workshop etc.
Sim, em workshops, por enquanto somos só nós três mas pretendemos fazer vários e aumentar nosso time para que possamos receber mais meninas nos workshops. Nós temos o apoio do Grupo Gen, uma livraria que já contribuiu com vários sorteios nossos, o Porto Digital também cedeu espaço e equipamentos para alguns eventos nossos.
8 -Como as meninas interessadas podem fazer parte da comunidade Tech is for woman?
Nossa comunidade se encontra no instagram com o user @techsforwomen e qualquer menina que sinta afinidade e queira participar é só nos seguir e bater um papo com a gente. Estamos sempre à disposição para tirar dúvidas e conversar com todas.
9 – Qual recado vocês gostariam de deixar para quem está iniciando na área, e ainda se sente insegura?
Se está com medo, vai com medo mesmo. Só dando o primeiro passo que você vai conseguir crescer, assim como você, nós também já fomos iniciantes e só conseguimos depois de muita insistência. Então não desista e pode falar com a gente pelo direct do Tech Is For Women, nem que seja pra desabafar ou bater um papo que nós vamos estar lá pra te ajudar e te encorajar.