O futuro da ciência no Brasil muitas vezes começa em salas de aula, mas é nas iniciativas acadêmicas ousadas que ele realmente ganha forma. O Projeto Zeus, idealizado pelas organizações estudantis TOPUS Projetos Aeroespaciais e Zenith Aerospace, é um desses exemplos transformadores.
Nesta entrevista especial, conversamos com representantes do Projeto Zeus, uma iniciativa inovadora desenvolvida por estudantes universitários que promete transformar o cenário aeroespacial brasileiro. A seguir, confira como a colaboração com empresas, como o próprio WallJobs, pode fazer a diferença para jovens cientistas no início de sua jornada.
WallJobs: Podem nos contar um pouco sobre o projeto?
Projeto Zeus: Incentivado inicialmente pelo fundador da WallJobs, Henrique Calandra, o Projeto Zeus representa uma iniciativa inovadora na América Latina a qual visa o desenvolvimento, construção, lançamento e recuperação de um Rockoon 100% nacional. Unindo conhecimentos de foguete modelismo e balonismo científico, as organizações estudantis universitárias TOPUS Projetos Aeroespaciais e Zenith Aerospace unem forças para trazer para a realidade uma alternativa mais acessível, tanto para pequenas empresas quanto eventualmente para governos no âmbito do posicionamento de pequenos satélites em baixa órbita terrestre (~ 600km).
Uma vez bem-sucedido, o Projeto Zeus promete acabar com a dependência de veículos lançadores desenvolvidos em agências espaciais e empresas estrangeiras, barateando o custo agregado ao programa espacial brasileiro e as demandas de experimentos que necessitam serem realizados em ambiente de microgravidade (proporcionado pela órbita baixa terrestre), experimentos estes muito utilizados por empresas farmacêuticas e centros de pesquisas nacionais, como por exemplo CIMED e CNPEM.
WallJobs: Quem são os membros da equipe por trás do Projeto Zeus e qual o papel de cada um nessa iniciativa?
Tendo em vista a organização interna das duas organizações estudantis autoras do projeto em equipes de subsistema sujeita a demandas, não existem membros exclusivos do Projeto Zeus. As demandas são distribuídas aos membros disponíveis dos subsistemas, o que implica que a equipe que executou determinada atividade será a mesma que irá executar a próxima. Os subsistemas trabalhados e suas respectivas funções na concepção do Projeto Zeus são:
- Propulsão: Responsável tanto pelo desenvolvimento do motor do foguete quanto pela confecção do propelente. Além disso, a atribuição deste subsistema também consiste na previsão computacional da trajetória a ser desempenhada pelo veículo lançador, prospectando apogeu, velocidade e estabilidade durante voo, bem como eventuais locais de queda. Estas informações são cruciais para determinação de um perímetro de segurança que não comprometa nem a integridade física da sociedade ao redor nem o tráfego aéreo na região de operação.
- Recuperação: Responsável por assegurar que tanto o foguete quanto a plataforma que o içará até a altitude de lançamento aterrissem em segurança, com velocidade de impacto baixa o suficiente para comprometer suas estruturas. O pouso bem-sucedidoo é de extrema importância para a recuperação dos dados coletados pelo computador de bordo, caso a comunicação remota seja perdida, tornando possível a análise de performance do Rockoon e, consequentemente, o julgamento acerca do sucesso da missão. A nível de design, o subsistema de recuperação decide qual será a geometria do paraquedas a ser utilizado, quantos paraquedas serão embarcados e qual a natureza do mecanismo que os acionará (mecânica, pneumática, pirotécnica, etc).
- Eletrônica: Responsável pela arquitetura de hardware e software a ser embarcada tanto no foguete quanto na sonda. O subsistema de eletrônica decide quais sensores serão utilizados e onde eles estarão posicionados de modo a assegurar seu desempenho durante todo o voo. Além disso, todos os programas responsáveis por captar, armazenar, transmitir e receber os dados captados pelos sensores também é atribuição deste subsistema.
- Aeroestruturas: Responsável por definir de que material e qual o design dos elementos que irão proteger todos os componentes eletrônicos, o motor e o sistema de recuperação. É atribuição do subsistema de aeroestruturas assegurar que cada peça se manterá fixa e íntegra durante voo, além de bem acomodada de modo que a montagem do veículo por si só não contenha nenhuma inconsistência quando realizada. Dentre os recursos computacionais utilizados, destacam-se softwares de simulação térmica e estrutural, bem como programas que permitem a visualização tridimensional da montagem do Rockoon, permitindo prever para quais operacionais e meteorológicas a sonda e o foguete terão sua eficácia garantidas.
WallJobs: Como o apoio do WallJobs ajudou o Projeto Zeus? Podem dar exemplos de como esse apoio foi importante para vocês?
Projeto Zeus: O apoio da WallJobs foi essencial não apenas para a aquisição de patrocínios de outras empresas, mas também para toda a construção da identidade visual do Projeto Zeus, desde a concepção do nosso patch até nosso estabelecimento em plataformas de mídias sociais, como por exemplo nossa página no Instagram, LinkedIn e website próprio. Além disso, graças ao apoio financeiro da WallJobs, fomos capazes de quebrar o jejum de 5 anos desde o último lançamento de foguete realizado de forma autoral em São Carlos, ou seja, sem o auxílio ou qualquer infraestrutura externa. Através desse lançamento conseguimos não somente validar tecnologias importantes na operação do protótipo definitivo do Rockoon, mas também reforçar a importância de nossas atividades perante comissões de cultura e extensão de alguns cursos oferecidos pela Escola de Engenharia de São Carlos e empresas fornecedoras de componentes imprescindíveis para a construção do foguete que será lançado da estratosfera.
WallJobs: Quais são os próximos passos para o Projeto? O que vocês planejam fazer no futuro?
Projeto Zeus: Dentre os próximos passos do Projeto Zeus estão a construção de um protótipo para a validação da operação de lançamento do foguete a partir de uma plataforma suspensa, ainda no primeiro semestre de 2025. Além disso, é previsto o planejamento de toda a operação de lançamento do protótipo final do Projeto Zeus no segundo semestre de 2025, para que o Rockoon seja finalmente lançado entre dezembro de 2025 e janeiro de 2026. Durante o processo de validação das tecnologias necessárias para que a operação seja realizada de forma plena, estão o desenvolvimento de um sistema de telecomunicações capaz de captar dados de performance independente tanto da sonda quanto do foguete, o teste de integridade do paraquedas utilizado no sistema de recuperação em baixas temperaturas e simulações estruturais e de estabilidade do Rockoon em função das rajadas de vento previstas para serem enfrentadas durante voo.
WallJobs: Na opinião da equipe Zeus, por que é importante para empresas como o WallJobs apoiarem projetos acadêmicos como o de vocês? Que benefícios vocês veem nessa parceria?
Projeto Zeus: O apoio de empresas como o WallJobs é imprescindível, pois muitas vezes é a única oportunidade que muitos jovens talentosos vão ter de colocar em prática conhecimentos adquiridos na sala de aula, consolidando parte importante no processo de amadurecimento profissional. Um ótimo exemplo que comprova minha fala é a empresa Tractian, fundada por ex-membros da equipe universitária Baja da USP de São Carlos. Não apenas por mostrar até onde podem chegar jovens impactados por iniciativas financiadas por empresas, mas também porque a Tractian — assim como o WallJobs, ciente da importância de investir em projetos acadêmicos — promove o programa Tractian Extracurricular Awards, que financia iniciativas universitárias, incluindo o Projeto Zeus.
A parceria entre empresas e iniciativas acadêmicas gera não apenas a divulgação das atividades da empresa no meio universitário — que representa uma excelente porta de entrada para novos mercados, tanto entre alunos quanto de forma institucional —, mas também a formação de mão de obra capacitada, já familiarizada com produtos e serviços da empresa financiadora, o que pode ser amplamente aproveitado pelos empresários.
WallJobs: Com a experiência que vocês tiveram buscando apoio para o Projeto Zeus, que dicas dariam para outros estudantes que estão fazendo o mesmo? Qual mensagem de incentivo vocês gostariam de deixar para eles?
Projeto Zeus: Uma dica muito importante, na minha opinião como líder do Projeto Zeus, é: não tenham medo de abordar empresas pelos telefones ou e-mails de contato.
Sabemos que, muitas vezes, projetos acadêmicos não recebem a devida atenção por não apresentarem uma perspectiva imediata de retorno financeiro. Frequentemente, nem mesmo temos a oportunidade de explicar como o projeto e a empresa podem se beneficiar dessa parceria. Mas posso afirmar: uma hora, alguma empresa abrirá as portas para vocês. Foi assim que o Projeto Zeus começou — precisando apenas de uma chance para dar certo — e hoje estamos realizando atividades que impactam todo o cenário do foguete modelismo brasileiro.
Além disso, para quem ocupa cargos de gestão, é fundamental ser compreensível com a equipe. Os membros enfrentam desafios em outras áreas da vida, seja na graduação, na vida pessoal ou até mesmo no trabalho. É função do gestor estar presente, manter a equipe unida e lembrá-los constantemente de que estão ali porque amam o que fazem — e que a atividade merece, sim, fazer parte da agenda de cada um.
O Projeto Zeus nos mostra que apoiar jovens cientistas é uma escolha estratégica com impacto direto no futuro do país. Para as empresas, é uma chance de fazer parte de uma revolução científica e tecnológica — enquanto ajudam a construir carreiras e sonhos. E para os estudantes, cada foguete lançado é também uma prova de que vale a pena acreditar em grandes ideias!